Estamos em uma época de muita cobrança por resultados da nossa atuação profissional. Temos a sensação de que trabalhamos muito, mas que esse ‘muito’ nunca é suficiente.
Vários profissionais chegam ao fim do dia esgotados e com a sensação de que desempenharam pouco. Para entender este momento do trabalho, é preciso (re)organizar as ideias e pensar um pouco no que significa ser produtivo(a).
A forma mais comum de medir produtividade é medir o tempo que uma pessoa dedica à sua atividade profissional.
Na versão presencial, o tempo é balizado pelas empresas por meio da permanência no ambiente de trabalho, portanto, mais fácil de ser mensurado. Às vezes, o funcionário nem é tão produtivo, mas, o fato de ele ter permanecido nas dependências da empresa durante certo tempo faz parecer que muitas horas foram trabalhadas.
Já na versão virtual do trabalho, a lógica de medida do tempo é colocada à prova. Para quem trabalha por meio do computador, medir os horários e o tempo de conexão, o número de participação em reuniões, ou de mensagens respondidas, pode gerar uma lógica parecida com a permanência em locais físicos de trabalho – mas não é a mesma coisa.
Fatores extras entram na equação quando profissional está no home office em meio à pandemia: a distância da equipe, a estrutura para trabalhar em casa, a rotina da família, o novo jeito de se comunicar, entre outros desafios.
O fato é que, atualmente, ao falar em produtividade, não sabemos como levar em conta as diferenças entre os perfis de pessoas, nem separar o que é ‘processo de trabalho’ do que é ‘resultado do trabalho’.
Para avançar nesse raciocínio, três reflexões podem nos ajudar a identificar a produtividade ou a falta dela:
Organização dos horários de trabalho
Normalmente, somos presos a horários padronizados de dedicação ao trabalho determinados pelas empresas. Mas, especialmente em ambientes virtuais, algumas atividades podem ser realizadas a qualquer hora do dia ou da noite.
E um dilema surge: de um lado, essa flexibilidade pode nos ajudar a trabalhar em momentos mais adequados ao funcionamento do nosso corpo e à nossa rotina familiar. Do outro, a falta de delimitação de horários pode fazer com que o tempo de dedicação ao trabalho não fique claro, o que pode prejudicar o desempenho do profissional.
Então, é preciso refletir se os horários em que trabalhamos são os mais adequados e os que nos tornam mais produtivos. É verdade que muitos profissionais têm que entregar algumas demandas em horários específicos, e não há opção de escolha.
Mas a dica é avaliar quais tarefas do seu escopo são mais flexíveis e, caso necessário, dialogar com o gestor para definir um rearranjo de horários. A partir disso, será possível recompor sua organização de outra maneira.
Fusão entre a vida pessoal e profissional
Houve um tempo em que dizíamos ‘não se deve levar problemas de casa para o trabalho e nem do trabalho para casa’. Atualmente, sabemos que casa e trabalho são ambos parte da nossa vida e que é impossível dissociá-los completamente.
Essa mistura entre vida pessoal e profissional foi, em parte, provocada pelos smartphones. No escritório, usamos o celular para não desligar das tarefas de casa e, quando estamos em casa, usamos o dispositivo para resolver imprevistos do trabalho.
No caso do home office, essa mistura é ainda maior porque trabalhamos enquanto a vida familiar acontece ao nosso redor – e no contexto de pandemia e isolamento social, os desafios podem ser mais complexos.
O profissional precisa reaprender a delimitar os limites entre essas duas esferas da vida para entender o quanto está, de fato, se dedicando ao trabalho.
Muitas pessoas ficam ligadas no trabalho por hábito durante o home office e não por realmente ser necessário naquele momento. É preciso refletir se esse é ou não o seu caso.
Com o home office, é preciso fazer um ajuste na rotina para continuar com uma hora de início, fim e pausas durante o dia a dia de trabalho.
Parâmetro pessoal de produtividade
Costumamos ser nossos principais algozes quanto à nossa performance profissional e nos comparamos com pessoas diferentes de nós.
Porém, o parâmetro pessoal do que é ‘ser produtivo’, que deveria ser primordial, é sufocado pelo padrão imposto pelas empresas ou pela comparação com outras pessoas.
O profissional precisa detectar qual é a sua capacidade de produção de trabalho. Faça um balanço da sua produtividade, avalie o quanto de trabalho você vem entregando e produzindo – separe o volume de tarefas e compare com o que você já vinha fazendo antes do home office.
Muitas pessoas vão se surpreender ao olhar para a semana que passou e ver que não estão fazendo pouco. Podem perceber que o volume de tarefas realmente aumentou. É um processo pessoal de adaptação. Muitas vezes, o problema é mais sobre a pressão que o profissional coloca sobre si mesmo do que sobre a falta de produtividade.
Como identificar a sobrecarga
A partir desses três pontos de reflexão, podemos entender que a sensação de sobrecarga costuma resultar em sinais físicos e psicológicos e que nem sempre conseguimos lidar com esse excesso de forma saudável.
Para identificar alguns sinais, as seguintes ações são necessárias:
a) Ajuste do ‘termômetro interno’: é necessário identificar os sinais de estresse e de desânimo gerados pelo trabalho para poder investir em ações voltadas à sua saúde ou para retomar atividades que ajudem no seu bem-estar, como exercícios ou algum hobby;
b) Alinhamento de expectativas: em uma conversa franca com o seu gestor busque entender qual é, de fato, o resultado esperado do seu trabalho e se você tem (ou não) atingido esses resultados;
c) Autoanálise: procure contabilizar o tempo que você realmente disponibiliza para o trabalho e o tempo que dedica a outras atividades para avaliar se existe um equilíbrio; se você tem ciência do que precisa entregar, ao identificar quantas horas está trabalhando fica mais fácil mensurar se há um excesso de tarefas ou se você não está entregando o que é esperado de forma eficiente.
De forma geral, o trabalho misturado com outras atividades nos confunde, mas, sempre é tempo de reorganizar a nossa rotina, buscando mais gratificação com a nossa vida profissional e menos ‘autocobrança’ por resultados irreais.
Nesse cenário, é preciso descobrir quais ajustes são necessários e quais angústias são decorrentes de uma demanda profissional excessiva que estamos acostumados a aceitar sem questionar.
Disponível em: Site da Revista InfoMoney
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