O mercado de trabalho está mais dinâmico que nunca, o que significa dizer que a gestão pessoal da carreira vem ganhando importância.
Por outro lado, aconteceu uma transformação na visão social sobre esse assunto, já que modelos antes comuns hoje são obsoletos.
E isso ocorre tanto pelos comportamentos e anseios dos trabalhadores, quanto pelas mudanças na gestão de pessoas e de processos dentro das empresas.
Por mais que os padrões se transformem e que seja difícil ter um controle sobre a trajetória profissional, a gestão pessoal da carreira ainda é essencial.
Se, em outros tempos, essa era uma preocupação dos empregadores, cada vez mais, passa a ser uma responsabilidade do próprio trabalhador.
Ainda está tudo muito nebuloso para você? Então, siga em frente na leitura.
O que é gestão pessoal da carreira?
A gestão pessoal da carreira considera o planejamento e execução consciente da progressão profissional de um indivíduo ao longo dos anos.
Ela trata da escolha dos caminhos que o indivíduo vai seguir em sua jornada profissional.
O que envolve o tipo de trabalho que pretende fazer, as habilidades e especializações nas quais a pessoa deseja investir e onde quer trabalhar.
“Onde quer trabalhar”, aqui, pode significar uma cidade ou país, mas também o empregador, que pode ser uma grande empresa, um negócio local, uma startup, etc.
Ou a escolha pode não envolver a vontade de ser um empregado, e sim um empreendedor ou um prestador de serviços.
Ou seja, a gestão pessoal da carreira envolve todas as grandes decisões que tenham relação com as atividades profissionais de uma pessoa.
Mas, não pense que se trata de um planejamento que é feito uma vez e seguido à risca por toda a vida. A gestão pessoal da carreira é um processo constante, pois envolve certa imprevisibilidade.
Um profissional pode estabelecer determinadas metas e, no meio de sua trajetória, mudar de ideia e resolver apostar em uma transição de carreira.
Essas transições podem acontecer por vontade própria. Mas, muitas vezes, a pessoa é surpreendida por mudanças do próprio mercado de trabalho que a obrigam a repensar suas escolhas.
Isso também é gestão pessoal da carreira: tomar as decisões que acha melhor no momento em vez de se prender a um plano feito há vários anos.
Convém destacar também que estamos dando uma definição moderna do termo. Em outros tempos, a maneira de gerir os caminhos da vida profissional era bem diferente.
A gestão pessoal da carreira costumava estar relacionada à empresa empregadora. Esta possuía um organograma com níveis hierárquicos bem definidos, que quase nunca mudavam.
Dentro desse sistema, cada trabalhador sabia exatamente qual o caminho que poderia seguir dentro daquela organização.
Hoje, pensar na gestão pessoal da carreira se limitando às fronteiras de uma empresa é um pensamento obsoleto, pois a mobilidade profissional se tornou muito comum.
Qual a importância da gestão pessoal da carreira?
Você pode pensar que, se a gestão pessoal da carreira é simplesmente as escolhas que alguém faz na sua vida profissional, todo mundo a pratica, não é?
Não necessariamente, pois se trata de escolhas conscientes, estratégicas, pensadas e planejadas, e não de deixar tudo ao acaso.
Quem fica na zona de conforto, esperando por oportunidades com uma postura passiva. Ou, então, aceita qualquer desafio que apareça sem pensar nas consequências. Esses profissionais não estão exatamente praticando a gestão pessoal da carreira.
Dito isso, fica evidente a importância de planejar e escolher com consciência.
Primeiro, essa é uma postura que impacta na empregabilidade futura. Seja porque o profissional escolhe uma área promissora ou porque toma para si a responsabilidade por todos os passos necessários para se destacar em determinado segmento.
A gestão da carreira também é fundamental para o sentimento de realização pessoal do trabalhador.
Sendo protagonista das decisões de sua vida profissional, as chances de você estar feliz e satisfeito com os rumos que sua vida profissional tomou são muito maiores.
Alguns podem pensar que a gestão pessoal da carreira tem se tornado menos importante nos últimos tempos.
Afinal, o mercado nunca foi tão volátil, por conta do constante avanço da tecnologia e da globalização.
Esse contexto pode nos fazer pensar que o melhor é deixar tudo para o acaso mesmo, já que as coisas andam tão imprevisíveis.
Mas é justamente o contrário! Nesse cenário, a consciência quanto à carreira é essencial.
Traçar objetivos e pensar em estratégias de desenvolvimento e evolução é uma maneira de diminuir os riscos.
Quem não faz isso fica muito mais suscetível às instabilidades do mundo atual.
Isso não quer dizer que o trabalhador terá pleno controle sobre o seu destino, mas sim que ele não ficará totalmente à deriva.
Como fazer uma gestão estratégica da sua carreira?
Não há como fazer uma boa gestão estratégica da carreira sem começar a ampliar o seu autoconhecimento.
Então, reserve um tempo para pensar sobre você mesmo.
Quais são suas virtudes e pontos a melhorar? O que você gosta ou gostaria de fazer? Qual valor pretende gerar para o mercado e para o mundo?
Há alguns exercícios que podem te ajudar, como a definição da sua missão de vida, da sua visão de futuro e dos seus valores pessoais. Pegue uma folha de papel e escreva isso tudo.
A partir daí, você pode pensar em quais áreas e aptidões têm a ver com o que escreveu sobre quem você é.
Caso já tenha certeza de qual área quer seguir, essas definições te ajudarão a dar um melhor direcionamento à sua busca por colocação ou recolocação.
Outra ferramenta interessante para o autoconhecimento é a análise SWOT, também conhecida no Brasil como análise FOFA.
Mais adiante, nas “7 dicas para fazer a gestão pessoal da sua carreira”, vamos explicar do que se trata essa análise e entraremos em detalhes sobre outras dicas úteis.
O passo seguinte é definir uma reflexão estratégica, envolvendo questões como: qual é a evolução pretendida, em qual patamar você está, em qual quer chegar e em quanto tempo?
Ao obter as respostas, desdobre esse grande objetivo em pequenas metas (que tenham prazo, sejam mensuráveis e realizáveis).
E anote o que você vai precisar desenvolver para realizar essas metas. Esse é o plano de ação, parte fundamental do planejamento estratégico da carreira.
Tenha esse plano sempre consigo e consulte-o periodicamente para não esquecer das metas que se propôs. É muito importante ter disciplina e seguir perseguindo os objetivos.
Mas também tenha em mente que esse plano não é imutável. Caso você tenha bons motivos para mudar determinadas metas, faça-o, pois a carreira nem sempre é tão linear quanto pensamos ser.
O que é um plano de carreira?
Plano de carreira e gestão pessoal da carreira são termos bastante parecidos, muitas vezes utilizados como sinônimos.
De fato, se você ler tudo o que falamos no tópico anterior, é muito parecido com o que chamamos de plano de carreira.
Esse termo, porém, tem perdido espaço porque conota um planejamento a longo prazo, mais engessado.
O nome era usado por empresas (algumas ainda o utilizam) para se diferenciarem como empregadoras.
Um bom plano de carreira, para um candidato a determinada vaga, era tão bom – ou melhor – que benefícios como vale refeição e plano de saúde.
Só que os tempos mudaram. Hoje, a maioria dos empregadores sabe que essa perspectiva de progressão a longo prazo dentro da empresa não agrada mais a todos.
Portanto, a diferença da gestão pessoal da carreira, em oposição ao plano de carreira, é seu caráter mais dinâmico.
Continua sendo importante planejar, sim, mas sem nunca fechar a cabeça para mudanças nos modelos de trabalhos, nos empregadores e nas áreas de atuação.
Analisando duas palavras já encontramos sinais dessa distinção: o plano é algo para o futuro, enquanto a gestão, embora envolva também o planejamento, acontece no momento presente e é perene por conta das possibilidades de redirecionamento das escolhas.
Isso tudo não quer dizer que um profissional que prefere optar por um plano de carreira tradicional, ficando décadas na mesma empresa, está errado.
Se essa é a escolha consciente do tipo de carreira que ele quer seguir, não há problema algum.
A seguir, você vai compreender que existem vários modelos possíveis e quais são suas características principais.
Principais tipos de carreiras
Existem várias maneiras de categorizar tipos de carreiras.
Nos próximos tópicos, vamos apresentar as divisões mais comumente utilizadas no mundo da gestão pessoal da carreira.
Carreira tradicional (ou burocrática)
É o tipo de carreira que era comum nas gerações anteriores, esse que explicamos no fim do tópico anterior.
Um profissional que segue uma carreira tradicional é aquele que fica muitos anos na mesma empresa – quem sabe até sua aposentadoria – e considera essa uma grande virtude.
A evolução desse profissional ocorre dentro do organograma da empresa, com a mudança para um cargo de maior hierarquia e melhor remuneração.
Carreira multidirecional
O profissional que deseja esse tipo de carreira rejeita o crescimento em linha reta da carreira tradicional.
Em vez disso, se mantém aberto para experimentar diversas áreas e pode mudar muitas vezes o foco de sua carreira.
Essa pessoa não tem medo de mudanças e costuma ter um perfil dinâmico, flexível e inquieto.
Carreira empreendedora
Como o próprio nome já diz, é a carreira de alguém que opta por empreender, criando seu próprio negócio em vez de continuar na vida de empregado.
Para ser bem-sucedido empreendendo, é preciso ter uma boa capacidade de organização, flexibilidade, boa comunicação interpessoal e liderança.
Carreira sociopolítica
Nesse tipo de carreira, a principal aptidão a ser desenvolvida é a capacidade de se relacionar, interagir e mobilizar outras pessoas.
Quem tem esse perfil pode atuar no setor público (como político eleito ou ocupando cargos de confiança), ser um prestador de serviços ou empreendedor em determinadas áreas.
Carreira acadêmica
É a carreira para quem não quer parar de estudar. Depois de concluir a graduação, faz mestrado e pode também fazer um doutorado.
Sua meta é atuar profissionalmente na pesquisa científica ou como professor universitário.
O que é carreira proteana?
Além dos tipos de carreira que acabamos de abordar, existe a chamada carreira proteana. O nome faz referência ao deus Proteu, da mitologia grega.
Essa divindade se caracteriza por assumir formas monstruosas para afugentar seres humanos que a procuram para consultar seus dons premonitórios.
A metáfora é usada porque é comum que o profissional que segue uma carreira proteana assuma novas formas. Aprendendo diferentes aptidões, experimentando novas áreas e novos modelos de trabalho.
É como se fosse um complemento da chamada carreira sem fronteiras, que é marcada pela grande mobilidade do trabalhador entre organizações.
Na carreira proteana, essa mobilidade é ainda maior. É geralmente motivada pelas percepções do profissional sobre o que o motiva, o deixa realizado e quais são os trabalhos condizentes com seus valores.
Tudo o que falamos até aqui sobre autonomia nas decisões sobre a vida profissional está muito presente na carreira proteana.
Além disso, a capacidade de se transformar resulta em profissionais flexíveis, que se adaptam com facilidade a diferentes cenários que se apresentam em sua trajetória.
Nessa visão, é importante que o profissional foque em aprendizado e, em certos casos, desenvolvam a multidisciplinaridade, atuando de forma colaborativa. Essas qualidades são cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho dinâmico dos dias atuais.
7 dicas para fazer gestão de carreira
A seguir, separamos sete conselhos que podem ajudar a melhorar a sua gestão de carreira.
1. Desenvolva inteligência emocional
Inteligência emocional é a capacidade de reconhecer seus próprios sentimentos e também os sentimentos dos outros.
Na gestão pessoal da carreira, ela é uma característica fundamental por dois motivos. Primeiro, porque ela potencializa o autoconhecimento. Segundo porque melhora os relacionamentos – mais adiante vamos falar sobre eles – e a maneira como o profissional se comunica.
2. Faça uma análise SWOT
No tópico “Como fazer uma gestão estratégica da sua carreira?”, recomendamos fazer a análise SWOT. Essa é uma interessante ferramenta para reflexões estratégicas nas organizações, que podem ser aplicadas ao seu autoconhecimento.
O nome é um acrônimo composto pelas seguintes palavras:
- S de strengths (forças): devem ser listadas características pessoais positivas, reconhecidas como virtudes na sua vida profissional.
- W de weaknesses (fraquezas): são o contrário das forças, ou seja, características pessoais que atrapalham sua vida profissional.
- O de opportunities (oportunidades): considerando suas características, preferências e condições, que oportunidades você enxerga no mercado para progredir?
- T de threats (ameaças): por outro lado, quais fatores e eventos desse mercado podem ameaçar seu crescimento profissional?
Tenha em mente que as forças e fraquezas são fatores internos. Já nas oportunidades e ameaças devem ser considerados fatores externos.
Listar todos esses elementos é uma ótima maneira de se conhecer melhor, e também de conhecer a realidade ao seu redor.
3. Peça feedbacks
Em muitas empresas, os feedbacks são burocratizados, acontecendo em intervalos determinados porque assim foi definido no desenho dos processos de RH.
O pior é que muitos gestores não gostam de dar feedback ou não enxergam o valor desse processo. Com isso demandam um forte controle administrativo para serem capazes de realizá-lo.
A dica aqui é ser proativo e pedir constantemente avaliações para os líderes, para sempre ter em mente quais são os pontos em que deve melhorar.
Para isso, é importante saber receber os feedbacks.
Ou seja, não levar as críticas para o lado pessoal, e sim enxergar as oportunidades que elas revelam.
4. Cultive bons relacionamentos
Manter uma boa rede de contatos no mercado não é importante apenas porque aumenta as chances de receber indicações para vagas interessantes. Ter um bom relacionamento com profissionais de vários setores e áreas é uma grande fonte de aprendizado.
Aquele que tem conhecimento, mesmo que básico, de diversas disciplinas, tem uma grande vantagem competitiva.
5. Aproveite a tecnologia
A tecnologia facilita bastante a gestão pessoal da carreira. O LinkedIn, por exemplo, é uma grande vitrine.
Com ele, é possível trabalhar o marketing pessoal e criar conexões, além de monitorar oportunidades.
Há ainda sites como o Glassdoor, em que o usuário pode obter informações sobre as empresas empregadoras.
Mas o melhor da tecnologia é o acesso a todo o tipo de conhecimento. Existem conteúdos e cursos gratuitos ou com preços bastante acessíveis.
Essa é uma ótima maneira de se tornar um profissional mais qualificado.
6. Aprenda a gerenciar seu tempo
A primeira vantagem de uma boa gestão do tempo é a melhora na produtividade no trabalho. Isso aumenta suas chances de crescimento na carreira.
Só que queremos chamar a atenção para outro grande benefício: gerenciando melhor o tempo, o sujeito consegue desenvolver novas aptidões em seu tempo livre, ampliando suas possibilidades profissionais.
7. Aceite e proponha experiências
Está em dúvida se vale a pena explorar determinada área ou oportunidade profissional?
Pense em maneiras de experimentar, sugerindo ao empregador uma experiência sem custos ou, então, empreendendo em um projeto pessoal.
Assim, de uma só vez você descobre se gosta da atividade e se leva jeito para a coisa.
Conclusão
Atualmente, o trabalhador tem total autonomia sobre a gestão de sua carreira.
Claro que ainda há quem sonhe com uma carreira tradicional. Nela a pessoa ingressa em uma empresa que dá boas condições de trabalho e lá tem chance de trabalhar por décadas até se aposentar.
Nesse caso, quando há oportunidade, o profissional vai progredindo com o passar dos anos dentro de um plano de carreira. Ele se movimenta dentro de uma hierarquia engessada.
Não há nada de errado com almejar essa realidade, mas é importante entender que o mercado mudou.
Os empregos não são mais tão estáveis e as empresas já se acostumaram com a grande rotatividade de empregados.
Por isso, é bom abrir a cabeça e pensar nas formas modernas de gestão pessoal da carreira que abordamos aqui.
Disponível em: Blog da FIA
Imagem: linkedinsalesnavigator | Unsplash.com