Nas empresas, falar de carreira é tocar na ideia de meritocracia. Ou seja, cresce profissionalmente quem apresenta os melhores resultados individuais! Nesse ponto, contrariando estruturas burocráticas, a posição de uma pessoa seria atrelada à sua contribuição com os objetivos organizacionais e não à simples ocupação de um cargo.
Por outro lado, assim como nas propostas iniciais da burocracia, o favoritismo cederia lugar à impessoalidade. A performance individual deveria, então, superar as indicações para a ocupação de cargos e garantir o crescimento profissional apenas para pessoas que comprovadamente atendessem e/ou superassem critérios formalmente estabelecidos de mensuração de resultados.
O sistema meritocrático é interessante enquanto superação (ou confirmação) da burocracia no dia a dia do trabalho organizacional. Tudo depende do ponto de vista… A proposta de superação do favoritismo, embutida nos primeiros estudos da burocracia, significava um importante avanço social. De alguma forma, a empresa burocrática e racional passava a possibilitar ascensão social por meio da qualificação técnica. Embora essa visão pareça ultrapassada, ela ainda é evidente nas empresas, e, atualmente é atrelada à ideia de mérito individual, que requer avaliações constantes e envolve, além da qualificação técnica, o comportamento.
Apesar do avanço que a meritocracia representa, sua grande lacuna está na subjetividade que, mesmo com critérios bem definidos, envolve a escolha de pessoas nas organizações. Essa subjetividade permeia desde o processo seletivo até a ascensão a cargos mais elevados nas estruturas organizacionais. Paralelamente, as ações afirmativas que garantem o acesso de minorias a instituições, inclusive a empresas, são duramente criticadas. As organizações têm dificuldade de adaptação a novas regras que as cotas representam e a sociedade se divide em posições antagônicas.
Nessas discussões, há quem diga que o mérito deve superar questões de gênero, raça, origem social, etc. Por outro lado, a simples observação de alunos em salas de aula de universidades permite notar, por exemplo, que os negros são minoria, ou, em boa parte desses espaços são, simplesmente, ausentes. Em um país em que 54% da população se declara negra ou parda, conforme o censo do IBGE, essa situação se reflete na participação de negros nas empresas, fato que, muitas vezes, esbarra na falta de qualificação.
O especial do UOL sobre intolerância e racismo traz um comercial do Governo do Paraná, em que profissionais de Recursos Humanos de empresas são convidados a interpretar fotos de pessoas brancas e, em seguida, as mesmas fotos, dessa vez, com pessoas negras. Um exemplo da diferença de interpretações está na mulher branca que, na visão desses profissionais, parece estar limpando a própria casa, enquanto a negra parece ser empregada doméstica. Nesse ponto, vale ressaltar a afirmação de Leonardo Sakamoto, nessa mesma reportagem, de que a meritocracia no Brasil é hereditária… Essa possibilidade de estigma social, sem dúvida, deveria permear novas discussões organizacionais sobre esse tema!
Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan
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