Épocas em que a oferta de emprego é escassa costumam ser propícias ao aumento da responsabilização do trabalhador quanto ao seu autodesenvolvimento.

Enquanto em épocas de escassez de mão de obra as empresas investem em retenção, quando a oferta de pessoal qualificado torna-se maior, seu poder de barganha também aumenta. O aumento de opções da empresa na hora de selecionar e de demitir provoca nas pessoas menos qualificadas uma espécie de culpa por não ter se desenvolvido o suficiente durante sua vida profissional pregressa.

O problema dessa situação, que é mais ou menos óbvia, está no fato de que as diferenças pessoais de ritmo e de iniciativas de desenvolvimento, em certos casos, inviabilizam a busca solitária por possibilidades de aprendizado.

Nesse ponto, não adianta cobrar de todos a mesma responsabilidade sobre a própria carreira. Certas pessoas, mesmo desempregadas, não têm condições de promover sozinhas o desenvolvimento de habilidades valiosas para o mercado de trabalho.

O lado bom dessa diversidade é que as empresas, normalmente, precisam tanto dos que se desenvolvem sozinhos quanto dos que dependem de mais suporte organizacional para conseguir progredir. Caso o ritmo de autodesenvolvimento fosse acelerado para todos, a empresa precisaria investir em sistemas de promoção e de movimentação muito complexos para não enfrentar uma rotatividade acima do que pode suportar.

Olhando para as diferenças individuais, destaca-se a frase que intitula este texto, que é atribuída a Magda de Paula, associada ao Instituto Brasileiro de Coaching. A fala de Magda está inserida em uma matéria do Estadão, de 11 de outubro de 2015. O texto trata das habilidades que, supostamente, devem ser fortalecidas pelos trabalhadores em períodos de crise. Na visão de profissionais de RH, tais habilidades seriam associadas a comportamentos de resiliência, proatividade, engajamento e liderança, entre outras, e são valorizadas tanto para a conquista quanto para a manutenção de empregos. De toda forma, ao adotar o discurso de responsabilização do trabalhador por sua empregabilidade, é sempre bom lembrar a relação de interdependência que envolve empresas e pessoas no mundo do trabalho. Assim, olhando para as diferenças individuais, torna-se possível lembrar que se alguns não chorassem, a venda de lenços não seria necessária.

Clique aqui para ler a matéria do Estadão.

Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan

Imagem: pixelrich | Unsplash.com

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