A pergunta que permeia os processos seletivos e assombra os selecionadores das mais diversas empresas, traz consigo um importante paradoxo, que é o da responsabilidade sobre a carreira. Por um lado, as pessoas são cobradas a serem protagonistas da própria carreira e, por outro lado, continuam esperando que a empresa ofereça uma estrutura clara de movimentação interna.

No discurso dos profissionais que atuam em Recursos Humanos, a pergunta frequente lançada por candidatos em processos seletivos “tem plano de carreira?” encerra a falta de assimilação do protagonismo do gerenciamento da carreira que o profissional precisa demonstrar ao pleitear uma vaga. Paralelamente, o aprofundamento dessa discussão revela o fato de que apenas uma pequena parcela das empresas tem clareza da própria estrutura de movimentação e dos estímulos que pode oferecer para que as pessoas gerenciem sua própria carreira.

Ao enfatizar a necessidade de discussão dos novos conceitos que envolvem a carreira, o consultor Rafael Souto, em texto publicado no jornal Valor em 25/09/2015, defende a ideia de “trabalhabilidade” como forma de buscar trabalho e renda pensando em fontes alternativas, sem ser empregado. Para Rafael, é preciso ensinar os jovens a pensar na vida profissional, sem considerar a possibilidade de emprego para toda a vida.

Apesar da notória necessidade de autonomia sobre a carreira por parte das pessoas e do incômodo dos profissionais de Recursos Humanos, a pergunta “tem plano de carreira?” reflete a assimilação social de que o emprego é uma relação de troca, uma relação utilitária. Uma vez que a pessoa deve demonstrar suas competências ao pleitear uma
vaga, a empresa também deve saber demonstrar o que tem para oferecer a seus futuros empregados. Se o emprego não garante mais segurança, deve garantir, pelo menos, possibilidades de desenvolvimento e de movimentação interna, com critérios claros e definidos.

O ganho social dessa troca de exigências entre empresas e pessoas é o impulso ao desenvolvimento mútuo que, enquanto promove a elevação do nível de competências dos profissionais, também não isenta a empresa de sua parcela de responsabilidade em relação à carreira de seus empregados.

Clique aqui para acessar o texto citado do jornal Valor.

Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan

Imagem: brookelark | Unsplash.com

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