O concurso público é um processo seletivo como outro qualquer, porém, com algumas particularidades. Uma delas está na clareza das etapas que o candidato irá enfrentar. A avaliação dessas etapas trás à tona a alta concorrência por praticamente todas as vagas oferecidas pelo setor público. Outra particularidade desse tipo de seleção está no fato de que, em tese, ela é cercada por imparcialidade absoluta. A mensagem implícita é: “Que vença o melhor” entre todos os cidadãos que se enquadrarem nas regras pré-estabelecidas, e que se interessarem por concorrer pelas vagas oferecidas.

Um dos problemas da opção pelo trabalho no setor público é que, ao decidir por esse tipo de carreira, boa parte dos candidatos se concentra em avaliar somente o processo seletivo em si e não a profissão que vai abraçar. Tal avaliação deveria incluir não somente a promessa por estabilidade de emprego, mas também as possibilidades de crescimento na carreira. Além disso, as funções cotidianas deveriam ser avaliadas cuidadosamente, considerando, inclusive a possibilidade de que a pessoa não se adapte à nova rotina de trabalho depois de ser nomeado “funcionário público”.

Olhar “para fora” da organização pública, deveria ser uma das preocupações dos candidatos desde a seleção, ou seja, se a pessoa, por algum motivo, não quiser trabalhar sua vida inteira na área pública, deve pensar em maneiras de aproveitar sua permanência nessa área para desenvolver competências que , mais tarde, favoreçam seu trânsito no mercado de trabalho.

A oferta de vagas é significativa. Em junho deste ano, este link anunciava que os concursos públicos somavam 10.469 vagas, com remuneração de até R$ 18,7 mil, dependendo da função. O primeiro edital anunciado no link tinha salário de R$ 630,00. Ou seja, existem vagas para níveis variados, com salários variados.

Não há nenhum problema em prestar concursos públicos, mas, há um risco no fato de que pessoas transformam a participação em tais processos seletivos em profissão. O jornal dos concursos questiona, neste link, se vale a pena trocar o trabalho pelos estudos. Nesse caso, estudos para concursos.

A matéria levanta o dilema entre estudar durante o tempo livre ou deixar o emprego na iniciativa privada para dedicar-se somente à preparação para concursos. Os “concursandos”, ou “concurseiros” devem programar seu tempo para se dedicar aos processos seletivos, esse é o apelo. Até aí, tudo certo… O problema é que estudar para qualquer concurso, esperando editais que se encaixem mais nas chances de aprovação e de nomeação do que no link com os sonhos profissionais pode ser um risco para a carreira. O foco na promessa de estabilidade, e não na atração do candidato pelas funções a serem exercidas, pode resultar em uma restrição que arrisca a satisfação profissional no longo prazo.

Essas reflexões não devem levar o leitor ao entendimento de que os concursandos não planejam suas carreiras, muito pelo contrário, há um investimento forte na decisão de prestar concursos. Porém, nesse planejamento, seja ele voltado ao setor público ou ao privado, o importante é desenvolver competências valiosas para compor a carreira de forma satisfatória no longo prazo. Se os estudos para concursos contribuírem para isso, melhor, pois aí reside a verdadeira estabilidade…

Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan

Imagem: linalitvina | Unsplash.com

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