A evolução dos conceitos que envolvem a carreira aponta para a noção de que as trajetórias profissionais, atualmente, são mais individualizadas, menos dependentes das organizações. As pessoas seriam, então, protagonistas da própria carreira, almejando empregos de forma utilitária, apenas com o intuito de promover o autodesenvolvimento e projeção no mercado de trabalho. Nesse caso, as empresas, embora sejam importantes agentes do desenvolvimento da carreira, tornam-se apenas um dos atores sociais que poderiam compor a experiência de trabalho de uma pessoa.
Nos últimos anos, os jovens passaram a ser a imagem que representa essa evolução do conceito de carreira. Os resultados de pesquisas que mostram que a geração Y (nascidos após 1986) é mais crítica e valoriza a qualidade de vida em detrimento de questões profissionais aliam-se à visão social de que os jovens formam vínculos frágeis com seus empregadores e contestam constantemente as regras impostas pelas organizações.
Apesar dessas reflexões, será que esses mesmos jovens são imunes às notícias sobre o trabalho no Brasil? A pesquisa da Universum, com mais de 67 mil estudantes brasileiros apontou o Google como o empregador mais desejado. Esse empregador também aparece em primeiro lugar nos resultados mundiais desse levantamento.
Atrás da Apple, a Petrobrás, apesar de ter passado do primeiro lugar em 2014 para o quinto em 2015, ainda continua forte na visão do jovem sobre emprego. Paralelamente, o que chama à atenção, de fato, são os segundo e terceiro lugares, nos quais figuram o Banco do Brasil (que no ano passado estava em primeiro lugar) e o Governo Federal, respectivamente. Seriam esses dois empregadores brasileiros o retrato das ambições da juventude brasileira ou, diante das notícias sobre a crise econômica, os respondentes estariam influenciados pela necessidade de encontrar empregos com mais estabilidade e longevidade?
Um dado que pode ajudar na resposta a esse questionamento é que, nessa mesma pesquisa, em 2014, a “inovação e sucesso de mercado” de uma empresa eram os atributos mais valorizados pelos respondentes. Esses requisitos perderam o lugar, em 2015, para a “solidez financeira”, algo que pode indicar a intenção de abraçar um emprego de longo prazo, diante do receio da instabilidade profissional.
Nota-se, portanto, que o avanço dos conceitos que envolvem a carreira precisam considerar, não somente o cenário econômico em que a carreira se insere, mas, a maneira como tal cenário é comunicado, especialmente aos jovens.
Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan
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