Em época de suposta e alardeada escassez de mão-de-obra qualificada, a preocupação sobre o início da carreira, que antes era dos jovens e de suas famílias, passa a ser também da empresa.
As questões contemporâneas no meio empresarial sobre o assunto giram em torno da preocupação sobre como lidar com os jovens que agora começam suas carreiras, algo que se tornou enigmático. O que exigir desses jovens, da mesma forma, á algo paradoxal.
Na visão empresarial, mais qualificação não significa vantagem… O Guia Você S/A “As Melhores Empresas para Começar a Carreira”, lançado no mês passado, mostra o quanto as empresas se preocupam com esse início da vida profissional e também o quanto o que os contratantes, nem sempre corresponde à convicção dos jovens e de suas famílias sobre uma boa formação.
Por exemplo, o investimento em qualificação educacional de pós-graduação e a experiência internacional, que, obviamente, parecem ser desejáveis logo no início da carreira, no discurso dos diretores de Recursos Humanos, nem sempre ganham tanto respaldo assim.
Sobre a pós-graduação, Armando Bordallo, diretor de RH da Ernst & Young Terco, afirma que isso só faz sentido mais adiante, e não no início da carreira. Sandro Bassili, da Ambev, aponta não somente para a falta de necessidade de MBA’s para o jovem, mas também para o fato de que experiência internacional não é essencial, pois, a empresa prefere
formar sua mão-de-obra.
A aprendizagem no dia-a-dia é mais valorizada no início da carreira do que a formação acadêmica. Nesse ponto, a matéria deste link deixa claro que, ao mesmo tempo em que os executivos de RH e headhunters reclamam da falta de mão de obra qualificada, discriminam jovens mestres e doutores, não os enxergando como talentos em potencial.
O argumento de que as universidades não formam profissionais preparados para o mundo do trabalho e que a experiência prática qualifica mais que a acadêmica aparece também neste link, da Revista Você S/A que alardeia: “estudo demais atrapalha”.
Em uma visão sociológica, essa autoconcepção das empresas como qualificadoras de mão-de-obra pode ser fortemente contestada. Apesar de as empresas esperarem explicitamente dos jovens atitudes criativas, o sociólogo Domenico De Masi afirma que as grandes organizações são o cemitério da criatividade, e que, o ambiente escolar, onde estão os jovens, é mais independente e, portanto, mais criativo. A entrevista na íntegra está neste link.
De Masi afirma que, por sorte, ainda existe diferença entre escola e empresa. Assim, a busca do jovem para entrar no mercado de trabalho deve ser cercada de ponderações que não limitem sua formação ao encontro de um emprego, mas, amplie sua qualificação para assumir também outros papéis sociais a que as pessoas são expostas durante a vida
adulta.
Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan
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