O primeiro post de uma coluna semanal sobre carreiras pede uma explicação. Nesta coluna, pretendo discutir as duas vertentes consideradas para a análise da gestão de carreiras, constantemente enfatizadas pelo professor Joel Dutra, da FEA-USP: o papel da pessoa e o papel da organização. Sob a perspectiva da pessoa, enfatiza-se a responsabilidade sobre o seu desenvolvimento profissional e a necessidade de planejamento da sua vida no trabalho. Sob a perspectiva da organização, destaca-se a responsabilidade por oferecer estrutura e suporte ao desenvolvimento das pessoas no contexto empresarial.
Apesar dessa responsabilidade, desde os anos 1980, as organizações, de forma geral, passaram a não suportar grandes estruturas burocráticas, e os trabalhadores foram responsabilizados por suas carreiras. A partir daí, se uma pessoa fica sem trabalho, a sociedade entende que faltou investimento em sua “empregabilidade”. Compramos assim o discurso da organização sobre carreira!
Atualmente, em conversa com executivos no ambiente acadêmico, a pergunta sobre os desafios para a gestão de pessoas nos próximos anos sempre trás à tona os problemas com retenção de profissionais. E essa é uma preocupação mais do que legítima.
Além do fato de que os trabalhadores jovens e qualificados estão “na mira do mercado”, a matéria aponta que os reajustes salariais “generosos” que as empresas oferecem para reter seus profissionais são os vilões que impulsionam a inflação.
O alerta: compramos o discurso de que não devíamos esperar nada das organizações e agora estamos prestes a comprar o discurso contrário, de que a nossa “infidelidade” prejudica a economia do país.
De forma geral, é interessante notar que o discurso organizacional sobre carreira tem seus efeitos colaterais… Voltaremos ao assunto…
Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan
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