Olhando para um passado recente, nos anos 1980, o brasileiro que esperava para começar a trabalhar após os 18 anos de vida já estava muito atrasado em experiência em relação às pessoas da mesma idade que tinham ingressado no mercado de trabalho aos 13 ou 14 anos, como era comum na época.

A necessidade de contribuir com a renda familiar era apenas uma face da decisão pelo ingresso precoce no mercado de trabalho. Havia também a vontade de ganhar independência, de construir um futuro individualizado e (porque não?) uma carreira de sucesso…

Aos poucos, essa realidade foi mudando, impulsionada pela melhoria da renda das famílias, pelo aumento da oferta de vagas no sistema educacional, pela ampliação do acesso ao ensino superior e, principalmente, pelo progresso da visão social de que a educação formal teria o potencial de proporcionar um futuro mais confortável.

Como efeito dessas mudanças, atualmente, a noção de educação proveniente do trabalho, que proporciona o desenvolvimento de competências valiosas para a carreira e para a vida, parece ter sido preterida frente à ambição de realizar um curso superior sem trabalhar de forma remunerada.

A matéria da Folha de São Paulo, de 26 de agosto de 2015, que mostra a pressão da decisão dos jovens pela busca de trabalho sobre a taxa atual de desemprego, é ilustrada com casos de universitários que “precisam” procurar emprego ao invés de se dedicarem exclusivamente aos estudos.

A impressão de que, atualmente, é preciso “abrir mão” da dedicação exclusiva aos estudos transmite apenas a sensação do trabalho como punição e não como uma importante oportunidade para a construção de uma carreira mais sólida, baseada na descoberta de aptidões valiosas que o ensino superior sozinho não seria capaz de realizar.

Disponível em: Blog do Prof. Dr. Leonardo Trevisan

Imagem: sickhews | Unsplash.com

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